Saturday, November 7, 2009

Inquisição no Brasil/ RJ



Inquisição no Brasil

No Brasil, a expansão do catolicismo foi marcada pela ação dos jesuítas junto às populações nativas. Contudo, não podemos deixar de levar em conta que, sendo lugar de encontro de várias culturas, o território brasileiro se tornou próprio para a prática de rituais e outras manifestações que iam contra os preceitos católicos. Muitas vezes, recorrendo aos saberes dos indígenas ou dos escravos africanos, os professos católicos se desviavam de seus dogmas.

Em vários documentos de época, possuímos o registro de algumas situações onde homens e mulheres apelavam para os saberes místicos de alguns feiticeiros. Geralmente, essa opção era ativada quando os remédios e ações litúrgicas cristãs não surtiam o esperado efeito em alguém que sofria com alguma enfermidade física ou emocional. Muitas vezes, até mesmo alguns padres eram denunciados aos seus superiores por recomendar a ação desse tipo de prática religiosa. Para frear esse costume, os dirigentes da Igreja fizeram o requerimento das chamadas visitações do Tribunal do Santo Oficio. Essa instituição, criada nos fins da Idade Média, tinha por função combater qualquer tipo de manifestação que representasse uma ameaça contra a hegemonia dogmática católica.

Em 1591, o clérigo Heitor Furtado Mendonça foi o primeiro a estabelecer essas visitações que investigavam os casos de heresia ocorridos no Brasil. As denúncias pelas práticas heréticas surgiam das mais variadas formas. Qualquer delação sem provas ou dedução precipitada bastava para que as autoridades retirassem o acusado de seu lar para responder ao processo. No momento em que chegava a uma localidade, para facilitar o acesso aos suspeitos, o inquisidor anunciava nas praças e igrejas os tais “editos de fé”, que era uma espécie de documento oficial onde o clérigo declarava os pecados que poderiam ser denunciados. Após ser preso pelas autoridades, o acusado passava por uma série de torturas que tinham como principal função obter a confissão do herege. Uma das punições mais comuns utilizadas era cortar a planta dos pés do acusado e, depois de untá-los com manteiga, expor as feridas em um braseiro. Contudo, antes que uma sessão de tortura fosse iniciada, um médico realizava uma avaliação prévia para que as limitações físicas do indivíduo fossem levadas em conta. Somente quando alguém não confessava os pecados denunciados é que a morte na fogueira era utilizada.

Sendo um instrumento de forte natureza coercitiva, os membros do Tribunal da Inquisição acreditavam que a humilhação pública era um instrumento de combate bem mais eficiente que a morte. A grande maioria das perseguições do Santo Ofício ocorreu na segunda metade do século XVIII. Ao todo, cerca de 500 pessoas foram denunciadas no Brasil, sendo a maioria acusada de disseminar o judaísmo.

http://www.mundoeducacao.com.br/historiadobrasil/inquisicao-no-brasil.htm


A INQUISIÇÃO ENTRE OS CARIOCAS

Como a Igreja agiu na repressão aos hereges do Ri
Léa Vinocur Freitag *

O tema Inquisição tem estado presente em diversos estudos nos últimos anos, na esperança de que esses períodos de trevas nunca mais se repitam. O livro A Inquisição no Rio de Janeiro no começo do século XVIII, de Gilberto de Abreu Sodré Carvalho, publicado pela Editora Imago, trata do assunto com sólida documentação. Sodré Carvalho, advogado e professor, iniciou as pesquisas há mais de 25 anos e mostra que “o sobrenome Abreu Sodré assevera o berço marrano e seus portadores se ramificam com muita gente originária da terra fluminense, como os de nome Sodré, Pereira, Silva Pereira, Sodré Pereira, Macedo Soares, Azevedo Sodré, Abreu Rangel, Rangel de Macedo, Sodré de Macedo, Azeredo Coutinho”.

O autor afirma que a Inquisição no Rio de Janeiro, no início do século XVIII, impossibilitou a estruturação de uma comunidade judaica. “Houvesse o retorno à Lei Mosaica, de tantas pessoas organizadas, comunitariamente, contaríamos milhões de judeus sefarditas no Brasil hoje. No meu sonho e gosto, eu seria um deles.” A atividade da Inquisição aumentou de 1580 a 1640, inclusive no período dos reis espanhóis – eram necessários os “estatutos de pureza de sangue” para o acesso aos cargos no governo. Entretanto, para a carreira religiosa, as exigências eram menores.

Muitos cristãos-novos em Portugal encaminhavam os filhos ao sacerdócio católico, o que proporcionava independência econômica, além de servir como proteção para a prática da fé mosaica pela família e pelo próprio sacerdote. Havia ainda a possibilidade de possuir terras e engenhos no espaço colonial luso-americano, como também de obter mercês régias, que mascaravam o marranismo.

A obra de Sodré Carvalho, além da documentação detalhada, bibliografia abrangente e consulta a pesquisadores, como Anita Novinsky, Alberto Dines, Paulo Valadares, Faiguenboim e Campagnano, Wiznitzer, Lina Gorenstein, entre outros, prende a atenção pelo estilo fluente. Sodré Carvalho nos contou que quando completou 13 anos, a idade da “maioridade” judaica, sua avó, carinhosamente, aconselhou que, nessa nova etapa da vida, tivesse mais responsabilidade – não era mais uma criança. Comentou ainda que era costume, em sua família, escolher a esposa cristã-nova em Portugal, pois à mulher cabia transmitir valores nos primeiros anos da criança. Referindo-se à concepção judaica em contraposição à cristã, o autor ressalta que o judaísmo é otimista, alegre e desinibido, ao contrário do catolicismo repressor, em que a carne é vista como fonte de todo mal. Lembra ainda que a língua hebraica conta com uma grande quantidade de sinônimos para “alegria”.

Sodré Carvalho estuda a formação de uma aristocracia açucareira marrana no Rio de Janeiro e sua derrocada, ocasionada pela Inquisição. Na genealogia de sua família, mostra que até Vasco da Gama foi um Sodré. E não se pode esquecer do grande historiador Nelson Werneck Sodré. Na sua conclusão, ele enfatiza que a pesquisa genealógica abre as portas para uma viagem ao fundo de nós mesmos. “Creio que todos os que lidaram com a pesquisa de suas origens ou conhecem de algum modo as suas raízes têm a mesma sensação de enriquecimento pessoal.”

*Léa Vinocur Freitag é professora titular da Escola de Comunicações e Artes (USP) e doutora em ciências sociais.

http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=5446&bd=3&pg=1&lg=

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